babel

Me assombro com a dissonância das nossas falas, com o atropelamento dos sentidos tão sentidos. Me assombro como chegamos a uma facilidade de assoprarmos nossas cinzas e abreviarmos o amor a pó. Como maltratamos esse órgão descompassado escondido sob as couraças do peito. Seus vizinhos inflando-se de ar para mais uma metralhadora de palavras letais que vão asfixiando um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais do que o nosso bem mais precioso será capaz de agüentar. Me acusa de estar cega, te acuso de estar surdo, e assim seguimos falando...horas, dias, anos, dias após dias, anos após anos. Noto, com um certo distanciamento descontente, que, nessa torre de babel que construímos, já não nos ouvimos, apesar de gritarmos.

(re)(des)encontros

Aos desencontros, meu lamento. Aos encontros, meu encanto. E aos reencontros...?

Avesso e direito

Ando com os olhos marejados, salteados de pavor e anseio. Mais uma vez estou à solta nas ruas e becos da solidão e o que me apavora também me excita a curiosidade. Confesso: ando meio bipolar... Daquelas que velejam entre a leitura inquietante de Camus e a literatura positivista e banal de auto-ajuda. Num dia sou livre, solta, impulsiva , divertida, e no outro sou acometida por uma brutal crise existencial. Depois de dias exalando felicidade, eis que abro a porta para a melancolia corriqueira de domingo. Talvez seja só pelo amanhã ser de segunda... Afinal a rotina dos dias-semanas-anos é algo que me angustia, mas ... ao mesmo tempo me redime. Não adianta. Ando vendo dois lados pra todos os lados que vejo. Ando de um lado para o outro na dicotomia de ser só duas. Não encontro as definições, vejo a clareza como um vulto e as conclusões me assombram! Sou especialista em ser prolixa, portanto não irei, caro leitor, prolongar meus devaneios de ser ou não ser. Ando, na verdade, com a paciência na gaveta e antes que eu rasgue esse papel, posto de próprio punho essas palavras amargas como o boldo.